terça-feira, 8 de novembro de 2011

Foram, então, retirados os estudantes da Universidade de São Paulo que ocupavam a reitoria da mesma. Como se fossem ir contra uma rebelião de presídio, ou um sequestro, a polícia se posicionou (400 homens estavam na operação, onde  a polícia cortou a energia elétrica. Em nota, os presos e drogados (assim estão sendo tratados os estudantes) relataram que estudantes foram agredidos e levados para salas escuras, onde gritavam por 30 minutos. Em resposta o major da PM que coordenou a operação falou que este “era o procedimento normal da PM de SP”. A grande mídia (e, por incrível que pareça, a Globo não lidera o discurso) fala em reestabelcimento da ordem e que a ordem é o verdadeiro bem comum (esse é o antigo discurso de Augusto Comte, grande amigo da democracia). Misturam-se, assim, três argumentos:  
1)      O primeiro é a justificativa inicial para toda a confusão: o campus da Universidade de São Paulo deve ser protegido pela polícia, diante da ineficácia de outros meios, no intuito de proteger os estudantes da ameaça de bandidos. Ocorre que, sob a idéia de criar uma sensação de segurança, outros direitos são totalmente ignorados. Cria-se uma falsa sensação de absurda insegurança (através da mídia, pautada por casos pontuais) e medidas extremistas são adotadas. Stanley Cohen definiu isso como um pânico moral. Ai, desta idéia, o genial Howard Becker diz que se cria uma "cruzada moral" em torno de um tema (segurança no campus), sem que se pense em fatores justos ou DEMOCRÁTICOS (soa familiar?). No caso da USP, nota-se que a mídia faz um pânico moral, como se andar dentro do campus é o mesmo que ir para um campo de batalha da 1ª guerra e apenas a Polícia resolverá a questão (detalhe: não se fala em outras áreas de atuação da polícia que a segurança inexiste). A idéia de insegurança é tão grande que quem vai de encontro a essa ideia só pode ser criminoso (ladrão, drogado). Problema é que não se fala que a Polícia traz repressão (na cidade baixa em que pessoas tomam cerveja na rua durante a madrugada puseram a polícia para revistar e afastar pessoas, usaram a desculpa dos drogados também). Na Universidade, contudo, as consequências desta repressão são muito maiores. A universidade é autonôma e lugar para criar, criticar, mudar. Pra combater ainda mais o preconceito, vou tratar todos os estudantes como maconheiros: se todos fumassem maconha, invoco a idéia de Durkein que, certas vezes, o “crime” faz um bem para a sociedade, que revê a necessidade de penalizar esta conduta e é na universidade que isso se cria (aposto que o pessoal “da sala de jantar” (MUTANTES, 1968) ficou mordido com essa. Só para lembrar que foram vocês praticando o adultério e o tornando comum que este foi descriminalizado e a Tia Carmem manda lembranças). Assim, a polícia no campus é um câncer pra diversidade da Universidade, uma amputação da autonomia universitária e um meio de conter a fomentação das novas idéias. Primeiro erro do reitor: ir pelo caminho mais danoso à Universidade e mais político possível. A polícia não foi treinada, nem é capaz de lidar
2)      O segundo argumento pró-desocupação é o da manuntenção da ordem. A suposta da desordem viria da falta de polícia (imaginem a anarquia – usada aqui na maneira pejorativa e errada da palavra – que era o campus da USP antes da polícia) antes da atitude do reitor de inserir um batalhão ali. Depois a ocupação da reitoria por si só seria uma quebra da ordem pública (palavras do comandante da Unidade da USP) e da grande mídia. Ora, prezados defensores da ordem: definam-na. Sem uma definição, muito difícil sustentar. Bom, pode ser que vocês saim pela tangente da mais citada da internet, a Clarice Lispector, que disse que a liberdade é aquilo que todos sabem e que ninguém sabe definir. Buenas, fazendo mão do clichê de ordem que adota a maioria dos seus defensores, que é uma visão patria, fámilia e propriedade da coisa, desde já informo: ao por a ordem acima de tudo, amigo, você esquece a democracia. Esta, tampouco a sociedade, não é fundada na ordem, como o amigo pensa, mas sim na liberdade. Uma Constituição serve para restringir poderes estatais, garantir liberdades individuais. Não peço a desordem absoluta, para que não venham com discursos chatos de “vamos voltar para os tempos das cavernas”, mas se tudo for proibido em nome da ordem, a estagnação é o resultado e a mudança é zero. A ordem é inimiga do diálogo e da diferença, a ordem quer o igual. A ordem quer uma sociedade forte unida em prol de uma só idéia, pois muitas idéias são iguais à desordem. A ordem é inimiga da liberdade. Todos os protestos são contra a ordem, pois eles querem quebra-la, nos acordar de um sono, de um marasmo que é o status quo. Se, no local do nascimento da mudança, a ordem não pode ser quebrada e decisões arbitárias não podem ser discutidas e revistas, não são os estudantes os inimigos da democracia (como disse Geraldo Alckimin, com seu tradicional discurso repressor já visto em todos os outros protestos de São Paulo que resultaram em violência), mas sim o reitor que permitiu, a polícia e toda a mídia que prefere ignorar o debate e apenas condena os estudantes. O resultado da ocupação da reitoria foram algumas cadeiras quebradas, demais salas: INTACTAS. Ora, se ideias valem menos que uma cadeira, queimem todos os livros de uma vez e façam mais eletrônicos para que possamos consumir.
3)      Por fim, o último argumento é de que a coisa toda seria conduzida por pessoas que são ligadas a movimentos de extrema esquerda e que só querem fumar maconha dentro do campus, visto que o movimento começou com a prisão de dois alunos por porte da droga. Primeira coisa; Boris Casoi, Mainardi, etc: O MURO DE BERLIM JÁ CAIU, A LUTA CONTRA O COMUNISMO ACABOU. Depois, agora há pouco DOIS MIL ESTUDANTES, em assémbleia geral, decidiram por fazer greve geral em contrariedade à posição adotada pelo reitor. Ora, o campus da USP deve ser uma neblina só, não é? Ademais, negar qualquer reivindicação a prioristicamente pela posição política da pessoa é a coisa mais sem noção que pode existir. Por mais uma vez, aqueles contrários ao movimento vão contra o próprio discurso de democracia, que está cada vez mais vazio. Por esse argumento ser tão Guerra Fria e sem sentido, não creio que mais comentários acerca deste precisem ser feitos. 




Finalmente, creio que a invasão da USP nos mostra algumas coisas que não são faladas, por colocarem a segurança num nível acima do debate. As reitorias, ainda que formadas por acadêmicos, são tão contra o movimento estudantil como qualquer outro governador. Vimos isso na UFRGS em diversas vezes, na PUC e agora na USP. A mídia segue tratando o movimento estudantil com desdém e como “bando de maconheiros”. A democracia não vale nada perto de “bens comuns” e da “ordem publica”, meros instrumentos de continuação de poder. Assim, faltou cérebro na melhor universidade da américa latina na hora de resolver a questão. Faltou e está faltando dialogo. O reitor representa a todos: funcionários, professores e alunos. A maioria é a favor da polícia no campus? Não importa, se uma minoria tiver seus direitos violados sem que se pense numa solução melhor.

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