domingo, 16 de outubro de 2011

Uma noite pra ser pensada


A noite era tranquila na Cidade Baixa. Apesar do vento fraco, o clima era agradável. Após um dia de mobilização mundial na luta pela democracia, por um mundo mais humano, grupos de manifestantes portoalegrenses se juntaram no largo da Epatur (largo Zumbi dos Palmares) para celebrar. As luzes se apagaram. Então, começa uma briga generalizada entre dois grupos: os que estavam no largo e supostos skinheads ligados à extrema direita (não raro a imprensa brasileira se esquece de mencionar que o movimento skinghead tem diversas vertentes, sendo composto, inclusive, de anarquistas). A coisa foi feia: cadeiras quebradas, garrafas no chão, gente esfaqueada (grupo de skinheads) e outro levado ao hospital. Triste notícia. Não apenas triste, mas muito preocupante. Somente em Porto Alegre, é o terceiro caso de violência envolvendo pessoas supostamente ligadas ao ideal fascista do começo do século XX. 
                                  (Sede do movimento Utopia e Luta pixada por extremistas)
Mais tarde no mesmo local, a polícia foi chamada. Integrantes dos dois grupos continuavam no local. A quem diga que a saudação nazista foi feita em frente à polícia. Havia uma repórter da rádio Guaiba no local e outro da TVE. Os dois feridos no hospital seriam investigados, de acordo com os policiais (havia cerca de 15). Um casal de homossexuais foi detido sob a acusação de um deles ter esfaqueado um do grupo dos skinheads. Ambos estavam de bicicleta e não havia qualquer sinal de que havia sido eles. Há de se destaca que a atitute de um (apenas um) dos policiais foi exemplar na detenção, lidando com a situação de maneira calma. Os outros, contudo, demonstaram agressividade em pessoas que estavam assustadas por terem que entrar em uma viatura e já puxavam suas armas “não-letais”, sendo a situação controlada pelo primeiro policial. Depois, a coisa se acalmou, as pessoas foram pra praça da Matriz celebrar a diferença e o grupo de supostos skinheads foi embora.
O que me deixou preocupado (sonhei com o assunto) é como isso vem se desenvolvendo no nosso país (ataques na Paulista, parques do Rio de Janeiro e na Cidade Baixa) de maneira exponencial e o porquê desse crescimento de ódio. Na Europa, esses movimentos cresceram em épocas de crise, em que a população aceitou o discurso de ódio, tentando achar culpados. Não é o caso do Brasil, contudo. Em realidade, o país está em um momento de crescimento econômico (ainda que reduzido), em detrimendo de uma grande crise em países de grande expressão no cenário mundial.
O que leva, então, no Brasil, ao surgimento de grupos fascistas? É a generalização do discurso do ódio para solucionar problemas (tem que matar esses vagabundos), é a utilização do humor para ridicularizar a diferença. Levadas ao extremo, chegamos a atitudes extremistas. O fascista vê, que a causa de problemas como a corrupção e a violência, é a diferença. Ele é o detentor de uma verdade e esta verdade deve ser universal. Segundo Moyses Pinto Neto, “O fascista simplesmente tem um desejo de aniquilação da diferença, ele busca a igualdade plena, a uniformização completa, serialização e produção contínua de iguais.”
Casos como o de ontem são uma extensão daquilo que muitos consideram bobagem repudiar. É o reflexo daquele discurso que bota nos nordestinos a culpa pela corrupção, nos gays pela destruição de valores familiares ou até mesmo pelo que está passando na televisão. É aquele apresentador de TV que prega a violência policial. Tudo isso gera uma situação de bárbarie e aceitação da bárbarie e estes grupos são apenas um reflexo do discurso de ódio criado por pessoas que se dizem democráticas e não veem sua opinião fascista.
Não sou sociólogo para afirmar tudo isso com uma fundamentação científica apurada. É apenas uma visão, que me faz ver todo o discurso que tenha um minímo de preconceito com aversão, e ser considerado chato por isso. Sei que todos temos preconceitos, externaliza-los e propaga-los é que o problema.
Por fim, me resta torcer para que um local tão sensacional como a Cidade Baixa, em que pessoas de todas as classes sociais e grupos convivem tão bem, ocupando o espaço público ao seu jeito e de maneira tranquila não se torne, novamente, local de bárbarie como a de ontem.

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