sábado, 21 de janeiro de 2012

O primeiro dia de um Adeus

      Hoje começa o fim. Como um paciente terminal de câncer, o Olímpico Monumental tem data para morrer: dezembro de 2012. Com muito confete, a Arena do Grêmio já é uma realidade: ela será o local que sediará os jogos do Grêmio a partir de 2013, salvo alguma grande excepcionalidade. Não me cabe, portanto, aqui falar sobre a necessidade e os pontos positivos ou negativos da arena; este tempo já passou. Preciso, no entanto, falar sobre o Monumental, local que freqüento semanalmente desde que tinha 05 anos de idade, aproximadamente.
      Não me recordo a data do meu primeiro jogo no Olímpico, não tenho a mais remota idéia. Por muito tempo, me torturava por não lembrar do sagrado primeiro jogo. Nem sequer do meu primeiro GreNal tenho notícias. Só foi lendo, na revista Placar, uma frase do ex-dirigente vascaíno, Eurico Miranda, que me acalmei com relação ao tema. Ele também não se lembrava do seu primeiro jogo no Estádio São Januário. Justificava: “eu me criei aqui dentro, não tem como eu saber a primeira vez que vim”. É isso. Desde antes de eu “me conhecer por gente” eu freqüento jogos no Olímpico. A freqüência veio com os 5 anos, aproximadamente, mas antes já freqüentava os jogos.
      Esse lapso de memória não ocorre, contudo, pras diversas emoções que me fez sentir o Monumental. Para os glory hunters de plantão, não falo apenas de títulos, que existiram, principalmente nos primeiros anos. Falo da emoção diferenciada de cada jogo. A primeira vez que chorei de tristeza, no Grêmio e Olimpia em 2002, quando o Grêmio foi garfado. A sensação de invencibilidade da década de 90, parecia que as almofadas da social (na época os torcedores levantavam as almofadas para apoiar) e as bandeiras das quase extintas Torcidas Organizadas tinham uma energia sem limites. Aquela melancolia ao final de cada jogo, quando ainda se queimavam jornais nas arquibancadas, eram dezenas de fogueiras. Ver a insensatez coletiva de 50 mil pessoas que acreditavam que poderiam levar um time muito inferior a reverter uma desvantagem de 03 gols contra o CABJ. Poderia passar o texto todo falando das tristezas e alegrias que vivi no cimento frio do Olímpico Monumental e o como essas emoções me fizeram quem eu sou hoje. Poderia falar também como minhas ideologias e questões éticas se moldaram ao seu jeito dentro do Olímpico. Mas acho que isso seria muito egocêntrico, pois quero falar mesmo é do Monumental.
      Me assusto com a maneira que a idéia do desenvolvimentismo afetou os amantes do futebol. Primeiro, na Inglaterra, os templos caíram e as Arenas tornaram o campeonato mais caro do mundo em algo frígido, das contidas elites inglesas. A coisa se espalhou pela Europa Ocidental e chegou ao Brasil com a copa de 2014. O Maracanã é apenas uma fachada, o Palestra Itália não é mais sombra da sua história. Talvez isso seja necessário, não vou entrar na questão, como já falei acima. Ocorre, no entanto, que as pessoas esqueceram completamente de todos os momentos que viveram nestes verdadeiros templos do futebol. Assim como não se faz um bom samba sem tristeza (Samba da Benção), não se muda de "casa" sem agradecer à ultima. E ninguém fez isso até agora, nada se discute, são apenas confetes, como falei.  
      Não sou engenheiro para dizer que o tempo do Olímpico já passou. Sou gremista e me importo com a história que nos trouxe o Monumental. Me preocupa também o futuro da torcida do Grêmio, em um local que aqueles que consomem pouco não são bem-vindos. Não creio que serei capaz de viver as mesmas emoções na nova sede do Grêmio, não com a mesma intensidade. Quero muito estar enganado. Até que se prove o contrário, para mim, a Casa do Grêmio sempre será o Olímpico Monumental da Azenha, Largo dos Campeões Nº 1. Que teus últimos dias sejam tão memoráveis quanto os outros.



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